O Lobby da Maconha.

"É triste que profissionais de renomadas universidades não alcancem a complexidade de um assunto que traz sérias repercuções para a saúde ." (Ronaldo & Ana Cecília)

Por Ronaldo Laranjeira & Ana Cecília Marques

O lobby da maconha no Brasil é um movimento forte e coeso. Tem uma idéia fixa: a legalização das drogas. Para se manter, usa elementos como uma pretensa respeitabilidade e a estratégia de confundir o debate.
O primeiro tem sido conseguido com a mídia, representantes da cultura, Justiça e até com alguns profissionais da Saúde. O segundo, a confusão, fica por conta de ativistas comprometidos com a causa da legalização, cujo debate tem única dimensão: a legalização como forma mágica de resolver o problema.
Quanto mais confusas as idéias, e aparentemente defendida por celebridades, mais parece que a maconha seja droga leve, assim, a legalização soa como consequencia. Quem mostra uma argumentação mais complexa é suspeito.
A FOLHA publicou em 30 de julho artigo de representantes de importantes instituições de ensino e pesquisa nos atacando pessoalmente, por publicação anterior, sobre o dom de iludir da maconha. É triste constatar que profissionais de universidades renomadas tenham a paixão dos lobistas e não alcançam a complexidade intelectual de um assunto com sérias repercuções para a saúde. Para além da unidimensionalidade do debate proposto pelo lobby, que vários assuntos se confundem, retoma-se:
1. Maconha faz mal à saúde.
Qualquer revisão científica concorda com os efeitos deletérios do uso crônico da maconha. O livro mais recente (Cannabis Policy, 2010) começa reconhecento tais efeitos, para, depois, discutir mudanças na política. Qualquer alteração na política que aumente o consumo de drogas, aumenta o dano. O lobby da maconha se recusa a aceitar tais evidências sobre os riscos.
2. O uso terapêutico da maconha não tem comprovação científica, especialmente o uso de sua fumaça. Se recomendado, com mais de 400 componentes tóxicos, negaria a busca da ciência por produtos cada vez mais seguros.
Algum dos componentes da maconha pode ter propriedades medicinais, mais isso está longe de receber aprovações de órgãos como Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de remédios e alimentos dos EUA. O lobby da maconha quer convencer a população de que a maconha é uma droga segura.
Uma das batalhas emblemáticas desse lobby, que chega ao absurdo de propor que a maconha possa ser usada como tratamento para usuários de crack, exemplo de indigência intelectual, uma desconsideração com a saúde da população.
3. Não precisamos que o Governo Federal, por meio da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), crie uma agência para coordenar pesquisas sobre a maconha terapêutica, a "Maconhabras".
Com milhares de usuários de crack nas ruas, sem tratamento, gastar o dinheiro público desta forma é ofender famílias desassistidas, que batem à porta dos serviços públicos sem encontrar apoio. Já existem siversos órgãos de fomento às pesquisas no País.
4. A Lei Antidrogas vigente paticamente descriminalizou o uso. Por coincidência ou não, o consumo de drogas aumentou, segundo todas as pesquisas. O lobby da maconha não reconhece que temos uma das leis mais liberais do mundo sem avaliação e querem maiores facilitações para o consumo?
O debate sobre a maconha é complexo, uma droga que tem o dom de iludir. Lobistas da maconha, mesmo aqueles travestidos de neurocientistas, não entendem essa compexidade. Mostram a certeza dos fiéis de uma seita, voltados à legalização da erva.
A sociedade brasileira os rejeita, pois sabe que estão distantes das diretrizes de uma boa política sobre as drogas e da defesa dos interesses do povo brasileiro.

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Ciência e Fraude no Dabate da Maconha Folha de S. Paulo, São Paulo, 30/07/2010. Tendencias e Debates, p. A3.

RONALDO RAMOS LARANJEIRA é professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Instituto Nacional de Políticas sobre Álcool e Drogas (Inpad/CNPQ).
ANA CECILIA PETTA ROSELLI MARQUES, doutora pela Unifesp, é pesquisadora do Inpad/CNPQ.

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Para Referir: Laranjeira, RR e Marques, ACPR, 2010. in internet http://www.marcosmaximino.psc.br. acesso em dd/mm/aaaa.

Publicado em 20/08/2010.

 
 
 
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